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Na Parte Um, publicada ontem ¡ª ¡°O setor ilegal avan?a sileciosamente e ocupa espa?o nas apostasé¢ ¡ª revelamos a dimens?o do crescimento das apostas ilegais, desde cassinos com criptomoedas at¨¦ corredores de escolas, e a complac¨ºncia crescente que permite que esse cen¨¢rio prospere. Nesta Parte Dois, encaramos as consequ¨ºncias: sistemas que entram em colapso, confus?o que se torna moeda corrente e jogadores vulner¨¢veis que se afastam cada vez mais das medidas de prote??o.
Kevin O¡¯Neill, especialista em jogo respons¨¢vel e diretor-geral da Responsible Gaming Foundation, refor?a a necessidade de colabora??o com lideran?a: ¡°Operadores e reguladores precisam trabalhar mais pr¨®ximos do que nunca para combater essa amea?a. Uma atua??o conjunta, somada ao compartilhamento de informa??es, pode conter as tend¨ºncias emergentes do setor ilegal.é¢
Mas confian?a ¨¦ um recurso finito na Gr?-Bretanha atual. E, uma vez esgotada, o que a substitui n?o ¨¦ a regulamenta??o. ? a resist¨ºncia ¡ª e um recuo lento para as sombras digitais, onde impera a desconfian?a e onde regras n?o t¨ºm valor. E embora n?o seja poss¨ªvel regular a curiosidade, ¨¦ poss¨ªvel ajudar as pessoas a enxergar o lobo por tr¨¢s do b?nus de boas-vindas.
Quando a verdade ¨¦ distorcida e a seguran?a passa a ser vista como censura, o setor ilegal n?o precisa bater ¨¤ porta. Ele simplesmente entra.
O revelou que 67% das pessoas que se inscreveram voluntariamente no programa de autoexclus?o GAMSTOP afirmaram utilizar plataformas ilegais para burlar as restri??es.
Procurada pela SiGMA News, a GAMSTOP apresentou uma perspectiva diferente. Um porta-voz declarou: ¡°Uma avalia??o independente extensa do GAMSTOP, conduzida pela Ipsos ¡ª uma das maiores ag¨ºncias de pesquisa do mundo ¡ª apontou que apenas 8% dos mais de 4.600 usu¨¢rios entrevistados disseram recorrer a operadores ilegais ou n?o licenciados.é¢
O porta-voz acrescentou: ¡°Embora as atividades de operadores ilegais sejam uma preocupa??o, ¨¦ fundamental basear nossas conclus?es em dados s¨®lidos, com amostras representativas, para entender a real dimens?o do problema e manter a quest?o em perspectiva.é¢
¡°Desde seu lan?amento em 2018, mais de 560 mil pessoas se registraram no GAMSTOP, e o programa tem sido eficaz em bloquear o acesso a todos os sites licenciados no Reino Unido. Mantemos contato regular com a equipe de intelig¨ºncia e fiscaliza??o da Comiss?o de Jogos e temos observado avan?os positivos na remo??o de sites e na interrup??o da promo??o desses sites ap¨®s notifica??es formais da entidade reguladora.é¢
¡°Al¨¦m disso, o Meta est¨¢ removendo os an¨²ncios que reportamos, especialmente quando envolvem o uso da nossa marca registradaé¢, completou.
¡°Reconhecemos que ainda h¨¢ trabalho a ser feito para eliminar toda a publicidade de cassinos ilegais ou n?o licenciados e, idealmente, impedir que esse tipo de publicidade ocorra.é¢
¡°Apoiamos o projeto de lei sobre Crime e Policiamento, que conceder¨¢ ¨¤ Comiss?o de Jogos mais poder para agir rapidamente na remo??o de endere?os IP e dom¨ªnios vinculados a sites ilegais.é¢
Mesmo assim, o GAMSTOP recomenda que os usu¨¢rios adotem medidas adicionais para se proteger. ¡°Recomendamos que os consumidores utilizem tamb¨¦m softwares de bloqueio e bloqueios banc¨¢rios para impedir o acesso a sites n?o licenciados, j¨¢ que sabemos que operadores sem escr¨²pulos visam especialmente os consumidores mais vulner¨¢veis.é¢
Para Kevin O¡¯Neill, a tecnologia voltada ¨¤ prote??o do usu¨¢rio ainda est¨¢ atrasada.
¡°Esses sistemas est?o ficando mais inteligentes, mas, pessoalmente, acho que ainda n?o acompanham o ritmo dos avan?os tecnol¨®gicosé¢, afirma. ¡°Em vez de encarar as verifica??es de acessibilidade financeira como uma ferramenta de restri??o, elas poderiam ser utilizadas para iniciar um di¨¢logo com o jogador desde cedo e tratar de sua situa??o financeira de maneira acolhedora.é¢
Essa mudan?a sutil ¡ª da imposi??o para a orienta??o ¡ª ¨¦ algo que muitos j¨¢ defendem. Mas ainda h¨¢ resist¨ºncia.
¡°Operadores licenciados podem encontrar um equil¨ªbrio melhor entre regulamenta??o e engajamento do consumidor ao oferecer pol¨ªticas transparentes, acess¨ªveis ao jogador e que priorizem o jogo respons¨¢vel sem comprometer a experi¨ºncia de entretenimentoé¢, completa O¡¯Neill.
Os incentivos do setor ilegal ¨C que v?o desde b?nus mais altos at¨¦ o anonimato e a flexibiliza??o das exig¨ºncias de identifica??o ¨C s?o atrativos para jogadores vulner¨¢veis e para aqueles frustrados com o mercado tradicional. Kevin O¡¯Neill faz uma observa??o incisiva: ¡°Muitos jogadores acabam deixando o mercado regulado por quererem mais anonimato, por serem atra¨ªdos pelas chances maiores de ganho ou pelos b?nus mais generosos oferecidos por operadores n?o licenciados, ou ainda pela sensa??o de que o mercado regulado ¨¦ excessivamente restritivo.é¢
Iris den Boer, da Deal Me Out, acrescenta: ¡°Influenciadores e afiliados t¨ºm um papel significativo na forma como os consumidores tomam decis?es ¨C especialmente os mais jovens. O problema ¨¦ que muitos est?o mais interessados no retorno financeiro do que na responsabilidade ¨¦tica.é¢
Matthew Hickey, fundador da Social Intent, comparou essa tend¨ºncia ao comportamento viral dos consumidores: ¡°Vimos isso acontecer no Reino Unido com o Prime ¨C aquela bebida virou um item de desejo extremo ¨C e, mais recentemente, com o chamado ¡®Chocolate de Dubai¡¯. No mundo dos jogos e apostas, a l¨®gica se repete: os jovens seguem o que os influenciadores dizem.é¢
O¡¯Neill complementa: ¡°A sa¨ªda dos jogadores do mercado regulado n?o pode ser explicada s¨® por insatisfa??o com as regras. Outros fatores influenciam, como a expectativa de ganhos maiores, a busca por fuga da realidade, ou o apelo de um ambiente mais privado.é¢
Den Boer concorda: ¡°Os ¨®rg?os reguladores precisam transformar a linguagem t¨¦cnica da ind¨²stria em mensagens mais claras, acess¨ªveis e que fa?am sentido para o p¨²blico em geral. O consumidor m¨¦dio n?o ¨¦ especialista em regulamenta??o de jogos. O que ele quer saber ¨¦ se a plataforma que est¨¢ usando ¨¦ confi¨¢vel, segura e legalizada.é¢
E se o jogador nem percebe que cruzou a linha ¡ª como traz¨º-lo de volta?
A realidade ¨¦ a seguinte: a maioria das pessoas que apostam no Reino Unido o fazem sem preju¨ªzos. A Public Health England j¨¢ estimou que apenas 0,5% da popula??o se enquadra na categoria de jogadores com problemas, com outros 3,8% em risco moderado. Mas, como Adrian Sladdin destacou no primeiro artigo desta s¨¦rie, as estat¨ªsticas tamb¨¦m escondem sombras.
Esses n¨²meros n?o revelam o grupo silencioso: pessoas que n?o aparecem nas manchetes nem ligam para linhas de ajuda, mas que vivem uma luta ¨ªntima com o jogo. Gente pr¨®xima ¨C familiares, amigos, colegas de trabalho. Pessoas comuns. Que parecem no controle diante dos outros, mas desmoronam quando a tela brilha ¨¤ noite. N?o s?o irrespons¨¢veis. S?o humanas.
Essas hist¨®rias s¨® aparecem nos dados quando a m¨¢scara cai, quando o banco nega uma transa??o, quando os relacionamentos come?am a ruir ou quando a vergonha ultrapassa o prazer da aposta. E, mesmo assim, est?o por toda parte. ? vista, mas invis¨ªveis. O sistema precisa funcionar n?o apenas para os extremos ¨C mas para essa imensa zona cinzenta no meio do caminho.
O mercado ilegal j¨¢ sabe onde encontrar essas brechas, caso os esfor?os de regulamenta??o, educa??o e prote??o n?o levem em conta essa fronteira invis¨ªvel entre o uso casual e o risco de depend¨ºncia. E n?o vai esperar por dados.
Matthew Hickey confirmou ¨¤ SiGMA News que, desde o in¨ªcio, a avalia??o do envolvimento com o mercado ilegal ¨C especialmente entre os jovens ¨C exigiu medidas de prote??o. Um artigo anterior da SiGMA News, ¡°Setor ilegal avan?a sileciosamente e ocupa espa?o nas apostasé¢, destacou as conclus?es do relat¨®rio Deal Me Out Black Market Evaluation.
¡°Criamos um grupo consultivo formado por pessoas com viv¨ºncia direta no tema e um painel de prote??o, justamente porque est¨¢vamos preocupados com as poss¨ªveis consequ¨ºncias de investigar o mercado ilegal com base em experi¨ºncias pessoais ¨C como o risco de que quanto mais fal¨¢ssemos sobre o assunto, maior poderia ser o interesse em explor¨¢-lo.é¢
Hickey explicou o processo: ¡°Usamos dispositivos de resposta (¡®clickers¡¯) para reunir dados em escala macro e, ao mesmo tempo, mantivemos canais de comunica??o direta com os participantes para obter uma perspectiva mais detalhada.é¢
¡°Tamb¨¦m usamos o SurveyMonkey como ferramenta para engajamento em massa. Antes da avalia??o, fizemos um levantamento inicial para entender o cen¨¢rio de base. Depois, conduzimos oficinas explicando termos como ¡®cassino social¡¯, ¡®moeda virtual¡¯ e afins. No fim, repetimos a coleta de dados com os clickers para comparar os resultados.é¢
Uma das descobertas mais relevantes? A maioria dos jovens nem sequer entende a linguagem do jogo.
¡°Havia uma preocupa??o real com o desconhecimento dos termos relacionados a apostas entre os jovensé¢, contou Hickey. ¡°Por exemplo, quando fal¨¢vamos de ¡°cassinos sociaisé¢ ou ¡°apostas com skinsé¢, muitos n?o reconheciam ou n?o compreendiam esses conceitos ¨C talvez porque usassem outros nomes para se referir a isso. Por isso, aumentar a conscientiza??o e a compreens?o virou prioridade durante nossa avalia??o.é¢
Kevin O¡¯Neill acredita que ¨¦ poss¨ªvel tornar os marcos regulat¨®rios mais humanos. ¡°As autoridades deveriam fazer mais para incluir vozes com experi¨ºncias reais, j¨¢ que essas perspectivas trazem percep??es valiosas sobre os impactos concretos do jogo e os desafios enfrentados por quem ¨¦ afetado.é¢
Matthew Hickey tamb¨¦m chama a aten??o para as diferen?as regionais.
¡°O projeto come?ou em cidades litor?neas, onde os fliperamas f¨ªsicos de beira-mar est?o facilmente acess¨ªveis para jovens. Atuamos no Noroeste, especialmente em Liverpool, o que pode ter influenciado o conhecimento sobre marcas como a Stake.com. Por isso, fizemos quest?o de coletar dados em outras regi?es para garantir equil¨ªbrio e evitar vieses geogr¨¢ficos.é¢
O que os formuladores de pol¨ªticas precisam levar a s¨¦rio?
¡°Operadores regulamentados atuam ¨¤s claras. Eles podem, entre outras coisas, divulgar suas marcas e exibir selos que comprovam conformidade e mecanismos de prote??o ao cliente.é¢
¡°O problema ¨¦ que, sem conscientiza??o, informa??o clara e uma rela??o mais pr¨®xima com o consumidor, esse p¨²blico inevitavelmente pode acabar migrando para o setor ilegal. No fim, as pessoas v?o buscar a solu??o que lhes parecer mais conveniente.é¢
Hickey tamb¨¦m alerta para a prolifera??o de sites fraudulentos que imitam os legalizados: ¡°Existem sites que replicam vers?es leg¨ªtimas. Talvez a Comiss?o de Jogos devesse seguir o exemplo do Brasil e distribuir URLs como parte do processo regulat¨®rio.é¢
Navegar por mercados ilegais ou de monitoramento duvidoso n?o ¨¦ apenas um risco legal ¡ª ¨¦ tamb¨¦m uma amea?a ¨¤ reputa??o. Basta um afiliado errado ou uma liga??o mal explicada com um operador sem licen?a para que uma marca perca a confian?a de jogadores, parceiros e reguladores. Em um cen¨¢rio p¨®s-white paper, esse risco n?o ¨¦ mais hipot¨¦tico ¡ª ¨¦ real e pode ser fatal para o neg¨®cio.
A Deal Me Out refor?a esse chamado ¨¤ uni?o. ¡°Quando atuamos isoladamente, dilu¨ªmos nosso impacto. Mas quando educadores, reguladores, operadores e a sociedade civil se unem com uma vis?o compartilhada, a¨ª sim conseguimos promover mudan?as duradourasé¢, afirmou Iris den Boer.
Nenhuma entidade sozinha resolver¨¢ o problema. Nenhuma norma isolada conter¨¢ todos os danos. Precisamos de responsabilidade compartilhada ¡ª n?o de apontar dedos. A educa??o precisa ser envolvente, n?o apenas informativa. A regula??o deve ser firme, mas tamb¨¦m justa. E, acima de tudo, os jogadores precisam sentir que o caminho legal n?o ¨¦ s¨® o mais seguro ¡ª ¨¦ tamb¨¦m o mais vantajoso.
Para O¡¯Neill, ¨¦ essencial que a inova??o acompanhe a urg¨ºncia. ¡°Para enfrentar o avan?o do jogo ilegal de maneira sustent¨¢vel e centrada no consumidor, governos e reguladores podem ampliar as op??es legais ¡ª como o micro-betting e plataformas online ¡ª, integrando blockchain para garantir transpar¨ºncia e intelig¨ºncia artificial para monitoramento em tempo real.é¢
A Entain resumiu bem: ¡°? urgente educar os consumidores sobre os riscos significativos de recorrer a operadores ilegais.é¢ J¨¢ Hickey defende que, no m¨ªnimo, os reguladores exijam transpar¨ºncia. ¡°Como voc¨º regularia essas opera??es? A verdade ¨¦ que n?o sabemos como isso funcionaria na pr¨¢tica. Mas eles deveriam ¡ª e precisam ¡ª assumir que est?o sendo pagos para promover.é¢
S¨® que isso ¨¦ s¨® o come?o. Estamos apenas maquiando os problemas enquanto nossas pol¨ªticas, plataformas e sistemas de prote??o n?o evolu¨ªrem para lidar com a realidade atual.
Campanhas bem produzidas est?o por toda parte. Rostos simp¨¢ticos e sorridentes nos dizendo para ¡°jogar com responsabilidadeé¢, com sorrisos t?o brilhantes que refletem a luz da TV. Quando o branding aparece antes mesmo do in¨ªcio de uma partida, qual ¨¦ a mensagem real por tr¨¢s disso? Porque, quando um aviso vem embalado em um outdoor com o logo da marca por cima, deixa de ser um servi?o p¨²blico ¡ª vira marketing disfar?ado.
Essas campanhas t¨ºm boas inten??es e representam um avan?o. Mas n?o falam com quem est¨¢ ficando para tr¨¢s. Com aqueles que n?o aparecem em grupos de foco. Que n?o precisam apenas de lembretes ¡ª mas de acolhimento.
Se a resposta a essa amea?a vier pela metade, empacotada em notas frias ¨¤ imprensa ou distribu¨ªda como pauta de marketing de ¨²ltima hora, o setor ilegal j¨¢ venceu. Ele n?o precisa de autoriza??o. S¨® precisa dos espa?os que deixamos descobertos.
E, num mundo onde o lucro avan?a mais r¨¢pido do que os princ¨ªpios, quem vai ter coragem de puxar o freio de um trem desgovernado a caminho de uma mina de ouro ¡ª mesmo que alguns passageiros fiquem pelo caminho?
Essa n?o ¨¦ uma hist¨®ria sobre infratores. ? uma hist¨®ria sobre descuido. Se o mercado ilegal est¨¢ ganhando espa?o, ¨¦ porque permitimos que ele ocupasse essa ¨¢rea cinzenta. A pr¨®xima jogada ¨¦ nossa.
Se a solu??o for coletiva, o futuro ainda pode ser resgatado.
*Se os riscos forem maiores do que apenas financeiros e a situa??o estiver ficando insustent¨¢vel, saiba que h¨¢ apoio dispon¨ªvel. O oferece ajuda confidencial e suporte para a sa¨²de mental.