Por que estrat¨¦gias de gamifica??o falham

Matthew Busuttil
Escrito por Matthew Busuttil
Traduzido por Thawanny de Carvalho Rodrigues

No auge da SiGMA ?sia 2025, realizado em Manila, um painel formado por grandes nomes da tecnologia em jogos se reuniu para analisar um desafio recorrente no setor: por que as estrat¨¦gias de gamifica??o fracassam? A discuss?o, conduzida por Jenny Ortiz-Bolivar, do SiGMA Group, reuniu Tom Jang Lemke, da SavageTech, Felipe Pastenes, da Miela, Dan Morrison, da Fast Track, e Kate Frolova, da SOFTSWISS. Juntos, eles revelaram desalinhamentos estruturais e estrat¨¦gicos que continuam a minar os esfor?os de gamifica??o em diversos mercados.

Estrat¨¦gias desconectadas e m¨¢ localiza??o

A gamifica??o costuma ser introduzida com grande entusiasmo, mas muitas vezes falha por causa de uma integra??o superficial, indicadores-chave de desempenho (KPIs) desalinhados ou desgaste do usu¨¢rio. Morrison abriu o debate destacando a necessidade de sinergia entre as ferramentas de gamifica??o e a arquitetura de dados j¨¢ existente. ¡°Se h¨¢ duas estrat¨¦gias separadas tentando impactar o jogador… claramente h¨¢ uma desconex?o.¡± Ele ressaltou que a gamifica??o precisa estar ancorada dentro de um framework unificado de CRM e marketing.

Pastenes corroborou essa ideia, apontando que at¨¦ os dados precisam ser contextualizados regionalmente. ¡°As prefer¨ºncias na Am¨¦rica Latina podem ser bem diferentes das prefer¨ºncias na ?sia,¡± explicou, destacando que usu¨¢rios latino-americanos geralmente preferem uma experi¨ºncia de usu¨¢rio (UX) mais simples e direta, enquanto o p¨²blico asi¨¢tico reage melhor a sistemas complexos e multifacetados. Ignorar essas nuances culturais e comportamentais costuma levar a resultados abaixo do esperado ou, pior, ao afastamento dos usu¨¢rios.

Li??es do fracasso: usu¨¢rios gratuitos e convers?o zero

Um exemplo contundente de implementa??o equivocada veio de Lemke, que compartilhou sua experi¨ºncia com um produto gamificado de sportsbook na Alemanha. A empresa atraiu 42 mil usu¨¢rios por meio de um sistema gratuito que oferecia bilhetes de loteria como recompensa. No entanto, nenhum deles se tornou cliente pagante. ¡°Exatamente. Zero,¡± confirmou. Essa experi¨ºncia refor?ou uma li??o dif¨ªcil: gamifica??o usada apenas como isca superficial n?o substitui uma proposta de valor de produto convincente.

Design centrado no usu¨¢rio e engajamento significativo

Frolova acrescentou que, embora a gamifica??o deva ser divertida, ela tamb¨¦m precisa se adaptar ao comportamento real dos jogadores. For?ar usu¨¢rios a seguir caminhos r¨ªgidos de engajamento ¡ª como exigir apostas m¨ªnimas de €2 em mercados onde a maioria aposta valores menores ¡ª pode ter efeito contr¨¢rio. Ela defendeu o uso de ferramentas flex¨ªveis e segmentadas, que atendam a perfis de usu¨¢rios distintos e permitam que cada jogador interaja conforme suas prefer¨ºncias.

O surgimento da fadiga de badges e como combat¨º-la

A conversa logo se voltou para um problema cada vez mais comum: a fadiga de badges (ins¨ªgnias). Morrison alertou contra sistemas inflados de n¨ªveis, onde os jogadores ficam presos no mesmo n¨ªvel por v¨¢rias sess?es. ¡°Eles ficam nesse n¨ªvel por 2, 3, 4 sess?es,¡± comentou, sugerindo mecanismos como a progress?o de n¨ªvel com limite de tempo para manter o ritmo. Lemke complementou com o conceito de ¡°badges zumbis¡± ¡ª recompensas que perderam significado por serem muito f¨¢ceis de conquistar. ¡°Voc¨º n?o pode dar uma ins¨ªgnia s¨® por usar a m¨¢quina de ca?a-n¨ªqueis uma vez,¡± disse ele. A solu??o, segundo Lemke, est¨¢ em valorizar a raridade e a visibilidade, lembrando que um badge conquistado por apenas 1,5% dos usu¨¢rios tem muito mais valor.

Aquisi??o vs reten??o: buscando o equil¨ªbrio

Ao debater aquisi??o versus reten??o, os participantes divergiram. Pastenes v¨º a gamifica??o como uma ferramenta poderosa para aquisi??o, especialmente quando impulsionada pela identidade comunit¨¢ria e conquistas compartilhadas. ¡°Quando [o jogador] sente orgulho… ele est¨¢ disposto a compartilhar,¡± argumentou, ressaltando que o engajamento entre pares naturalmente alimenta a reten??o. Frolova destacou que elementos gamificados vis¨ªveis aos novos usu¨¢rios ajudam a criar apego j¨¢ no primeiro contato. Morrison, por¨¦m, advertiu que a gamifica??o focada em aquisi??o frequentemente atrai usu¨¢rios de baixo valor, ecoando o alerta de Lemke sobre jogadores gratuitos que nunca convertem.

Personaliza??o, cultura e vantagem regional

O painel tamb¨¦m analisou como a personaliza??o se entrela?a com a gamifica??o. Pastenes contrastou o foco competitivo dos usu¨¢rios asi¨¢ticos com as prefer¨ºncias comunit¨¢rias dos latino-americanos. Lemke observou que operadores asi¨¢ticos s?o muito mais receptivos a ferramentas de gamifica??o do que os europeus ocidentais. ¡°A gamifica??o j¨¢ est¨¢ profundamente integrada entre [operadores asi¨¢ticos],¡± disse, atribuindo isso ¨¤ maior familiaridade regional com sistemas digitais interativos.

Conselhos estrat¨¦gicos do painel

Na reta final, Ortiz-Bolivar pediu que cada participante compartilhasse um princ¨ªpio orientador para operadores que planejam sua pr¨®xima estrat¨¦gia de gamifica??o. Lemke ressaltou a import?ncia de entender os grupos de usu¨¢rios, destacando que o p¨²blico jovem, entre 21 e 29 anos, responde muito melhor a mec?nicas gamificadas. Pastenes incentivou a integra??o rigorosa da gamifica??o com estrat¨¦gias de marketing, evitando trat¨¢-la como um recurso isolado. Morrison refor?ou a necessidade de vincular gamifica??o a dados de CRM e comportamento. Frolova concluiu enfatizando a import?ncia da an¨¢lise profunda como base para qualquer estrat¨¦gia eficaz.

Uma mensagem unificada: gamifica??o n?o ¨¦ uma solu??o m¨¢gica

Ao longo da discuss?o, uma mensagem ficou clara: o sucesso da gamifica??o depende menos de artif¨ªcios e mais de relev?ncia, clareza e coer¨ºncia. Como resumiu Ortiz-Bolivar, ¡°Nem mesmo a melhor gamifica??o consegue compensar uma experi¨ºncia ruim com o produto.¡± Operadores precisam focar em oferecer jornadas aut¨ºnticas, baseadas em dados e culturalmente adaptadas, que conquistem o engajamento em vez de apenas obrig¨¢-lo.

Para acompanhar mais debates estrat¨¦gicos que moldam o setor de iGaming, siga a agenda da SiGMA ?sia 2025 e n?o perca os pr¨®ximos pain¨¦is que combinam dados, inova??o e expertise local:
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