Por que jogamos? Motivação e comportamento dos jogadores

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

Já parou para pensar por que a gente joga? No mundo do iGaming, essa pergunta vai bem além de “fazer uma aposta” — envolve fatores emocionais, cognitivos e até sociais que explicam por que alguém continua voltando para a roleta, slots ou poker online. Essa mistura de motivadores e padrões de comportamento ajuda a entender melhor o que faz alguém se envolver nesse universo — e até auxilia operadores a construir experiências mais responsáveis e divertidas.

Motivação: o que está por trás do clique?

Resumidamente, os jogadores entram em jogos por dois tipos principais de motivação: interna e externa. A motivação interna vem do prazer de jogar em si: a busca por diversão, desafio e realização pessoal. Por exemplo, quem curte poker ou eSports é movido pela vontade de dominar suas habilidades e vencer os adversários, ou até de ganhar status. Já a motivação externa é impulsionada por recompensas como dinheiro, bônus, rankings e reconhecimento.

Vale olhar também para a Teoria da Autodeterminação, que fala de três necessidades psicológicas básicas: competência (sentir que é bom no que faz), autonomia (ter controle sobre suas escolhas) e relacionamento (ligação com outros). Jogos online oferecem isso com recursos como desafios, liberdade de ação e comunidade — gerando motivação que se sustenta bem.

Como o comportamento se forma

A motivação faz girar o motor, e o comportamento é o resultado. Uma peça fundamental aqui é o ciclo de reforço, aquilo que os pesquisadores chamam de compulsion loop — quando a expectativa de recompensa ativa dopamina, e o efeito cumulativo faz a pessoa voltar a jogar. Funciona assim: você espera, joga, recebe (ou acha que quase recebeu), e quer repetir para conseguir de novo o mesmo sentimento. Isso vale especialmente em jogos com recompensas variáveis tipo slots — o cérebro adora a chance imprevisível.

E isso se conecta a um fenômeno chamado “quase vitória” (near-miss): quando o resultado quase acerta, subindo o nível de excitação e motivação. Estudos mostram que esses momentos ativam regiões ligadas à recompensa no cérebro, fazendo o jogador acreditar que está prestes a ganhar.

Viés cognitivo e armadilhas mentais

O cérebro humano nem sempre é racional. Vieses cognitivos empurram o jogador pra decisões que parecem boas, mas não são. Tem o viés de confirmação, onde o jogador só acredita nas estatísticas que confirmam a ideia de que ele vai vencer o cassino. Tem o viés da aversão à perda, que faz o jogador perseguir prejuízos porque a dor de ter perdido algo pesa mais que a alegria de ganhar. Tem também a “falácia do jogador” — acreditar que, depois de várias perdas, “agora vai”, mesmo que cada rodada seja independente.

Outros fenômenos são a “ilusão de controle”, quando o jogador acha que pode influenciar o resultado — tipo apertar o botão na hora exata ou usar rituais — e o “otimismo exagerado”, quando a pessoa superestima sua chance de ganhar.

“Pacientes com transtorno de jogo apresentam, geralmente, redução no volume cortical e no córtex frontal — região do cérebro responsável pelo autocontrole. Já as áreas límbicas, que processam recompensas, ficam hiperativas. Ou seja, o “freio” mental não funciona como deveria e a parte que busca recompensas ganha força”, explicou Rayyan Zafar, PhD, pesquisador em neuropsicofarmacologia do Imperial College London ao portal webMD.

Fatores individuais e emocionais

Não é todo mundo que se envolve da mesma forma. Essas motivações interagem com traços individuais como impulsividade, busca por emoção e falta de autocontrole. Por exemplo, quem é mais impulsivo tem a tendência de apostar sem pensar. Quem busca emoção (sensation-seeking) gosta da sensação de risco. Já quem joga para escapar de problemas, estresse ou emoções negativas pode cair em padrões problemáticos com consequências graves. Talvez (e não existe um estudo que comprove), a maior parte dos casos de ludopatia tenha originado assim.

Pesquisas mostram que motivações focadas em “escape” estão associadas a sintomas de dependência e desgaste emocional. Ou seja, jogos podem servir como válvula de escape — mas, sem controle, o escape vira aprisionamento.

Os jogos são desenhados para manter você lá. Gráficos, sons, efeitos visuais, sons de vitória e feedback imediato são tudo isso moldado para prender sua atenção. Recursos como badges, desafios, níveis e chat criam um ambiente de comunidade e competição, incentivando o jogador a continuar. Esse ambiente reforça tanto as motivações internas quanto externas, como mencionado no início deste artigo.

Compreender esses fatores é essencial não só pra criar plataformas mais envolventes, mas também para promover o jogo consciente. O equilíbrio entre diversão e responsabilidade depende de reconhecer quando a motivação vira compulsão — e agir para oferecer suporte, prevenção e limites saudáveis. No fim das contas, entender o comportamento dos jogadores é entender suas histórias, emoções e necessidades. E isso faz toda a diferença no universo do iGaming.