CPI das Bets: Senadora pede saída de Ciro Nogueira após viagem em jatinho de investigado

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

A , criada para investigar a atuação das casas de apostas esportivas no Brasil, está agora passando por uma crise interna que ameaça comprometer a credibilidade do trabalho. No meio da situação está o senador Ciro Nogueira (PP-PI), acusado de manter relações impróprias com empresários investigados pela própria comissão. 

Viagem em jatinho de empresário investigado 

A polêmica começou quando a revista Piauí revelou que Ciro Nogueira viajou para Mônaco em um jatinho particular pertencente a Fernando Oliveira Lima, dono da One Internet Group, empresa de tecnologia que atua no setor de apostas e é alvo das investigações da CPI. A viagem, que teve como destino o Grande Prêmio de Mônaco de Fórmula 1, aconteceu exatamente na época em que a CPI está em maior evidência no país, principalmente após a sessão que contou com a participação da influenciadora Virgínia Fonseca. 

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI, considerou a situação inaceitável e solicitou oficialmente a retirada de Ciro Nogueira do corpo da comissão. Em suas redes sociais, ela afirmou que a atitude do colega compromete os trabalhos da comissão e a confiança da população brasileira.  

Troca de acusações 

Para se defender, Ciro Nogueira alegou perseguição política e acusou Thronicke de manter vínculos com lobistas do setor de apostas. “Senadora acusada de auxiliar lobista de extorquir investigado não tem credibilidade”, declarou o senador em entrevista à CNN Brasil.  

Thronicke, por sua vez, negou as acusações e afirmou que vem sofrendo ameaças e intimidações de senadores que atuam conforme interesses das casas de apostas. O pedido para excluir Ciro Nogueira da CPI foi apresentado ao líder do bloco Aliança no Senado, senador Hiran Gonçalves (PP-RR), que ainda não se pronunciou sobre o assunto. 

Convocados faltam e CPI pede conduções coercitivas 

A CPI das Bets também está tendo que ligar com o desafio da ausência de diversos convocados para depor. Na terça-feira, 27 de maio, o influenciador Jon Vlogs e o empresário Jorge Barbosa Dias, proprietário da plataforma MarjoSports, não compareceram à sessão. Depois disso, a comissão aprovou a condução coercitiva de ambos, medida que ainda depende de autorização judicial para ser executada. 

Jon Vlogs alegou estar fora do país, o que gerou críticas da senadora Thronicke. “Sabemos muito bem quão ricas essas pessoas são. Elas podem vir do exterior, porque tem voos todos os dias para o Brasil. Na minha concepção, é má vontade, uma desculpa”, declarou a parlamentar. 

Na quarta-feira, 28 de maio, foi a vez de Bruno Viana Rodrigues, sócio-administrador da Brax Produção e Publicidade Ltda, faltar ao depoimento, causando o cancelamento da reunião. A Brax atua com marketing esportivo e aluga espaços publicitários em partidas de futebol. 

Influenciadores na mira 

A CPI também tem convocado influenciadores digitais para prestar esclarecimentos sobre a promoção de apostas online. Virginia Fonseca e Rico Melquíades já foram ouvidos pela comissão. Ambos negaram irregularidades e afirmaram que suas ações estavam dentro da legalidade. 

A comissão solicitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) a produção de relatórios de inteligência financeira sobre os influenciadores, para que possam esclarecer a atuação deles no mercado de apostas. 

Credibilidade em jogo 

As recentes polêmicas envolvendo membros da CPI das Bets (inclusive o comportamento de diversos deles durante o depoimento de Virgínia, leia aqui) e a ausência de convocados para depoimentos colocam em xeque a credibilidade da comissão. A troca de acusações entre os senadores Soraya Thronicke e Ciro Nogueira e as dificuldades em ouvir testemunhas-chave, levanta dúvidas na sociedade sobre a efetividade dos trabalhos da CPI. 

Enquanto isso, o setor de apostas online continua em expansão no Brasil, movimentando bilhões de reais e atraindo a atenção de autoridades e da sociedade civil. A CPI das Bets tem a missão de investigar possíveis irregularidades nesse mercado, mas precisa superar seus próprios problemas internos para cumprir esse objetivo.