Homenagem ao legado de Mark Mallia pela Funda??o SiGMA

David Gravel
Escrito por David Gravel

Algumas vidas s?o v¨ªvidas, pintadas em tra?os e cores ousadas que deixam uma marca indel¨¦vel em todos que tocam. Para o renomado artista malt¨ºs Mark Mallia (1965-2024), a arte n?o era apenas algo que ele criava; era algo que ele vivia. Mas al¨¦m do artista, ele era um filantropo. Seu cora??o pulsava em sintonia com a miss?o da Funda??o SiGMA. Essa funda??o ¨¦ uma maneira maravilhosa de lembrar o quanto ele se importava em ajudar as pessoas. Atrav¨¦s das mem¨®rias de seu amigo e parceiro criativo, Etienne Farrell, a hist¨®ria de Mark se desdobra com risos, l¨¢grimas e um inconfund¨ªvel senso de orgulho.

O homem por tr¨¢s da arte com um cora??o de ouro

“Por dentro, ele era
apenas um marshmallow.¡±
ETIENNE FARRELL

¡°A pessoa era o artista e vice-versa,¡± come?a Etienne, com os olhos brilhando de uma mistura de divers?o e carinho. Ela ri, balan?ando a cabe?a. ¡°Mark podia ser muito flamboyant ¨¤s vezes e adorava se exibir.¡± Mas por tr¨¢s da performance, havia um homem profundamente emp¨¢tico. ¡°Ele costumava sentir muito. N?o que ele n?o se importasse. Era que ele projetava essa imagem. Tenho certeza de que era para se proteger. Mas por dentro, ele era apenas um marshmallow.¡±

Uma de suas ¨²ltimas colabora??es na orla de Sliema traz um sorriso ao lembrar a montagem das enormes mesas, posicionadas lado a lado. ¡°Uma ficava do lado interno da cal?ada e a outra do lado externo,” ela explica. ¡°Ele disse: ¡°Escolha a que voc¨º preferir.¡± E eu respondi: ¡®Com voc¨º se exibindo, ¨¦ claro que vai ficar o mais perto poss¨ªvel das pessoas.¡¯¡± E l¨¢ estava ele, com o soprador e o ma?arico, em meio ¨¤s chamas, feliz e se exibindo para todos.

Etienne recorda a generosidade de Mark e seu envolvimento com v¨¢rias causas. ¡°Ele trabalhou muito com o , por exemplo.¡± Etienne conta como teve dificuldade em continuar com as exposi??es e projetos que estavam planejando, com uma exce??o. ¡°Est¨¢vamos organizando uma exposi??o beneficente em prol da Kate, uma menina maltesa de cinco anos que enfrenta a S¨ªndrome de Tatton-Brown Rahman, uma condi??o extremamente rara que afeta cerca de 250 pessoas no mundo. Essa ¨¦ a ¨²nica exposi??o que mantive¡­ Em dezembro, teremos essa exposi??o dedicada ¨¤ Kate.¡±

Reflex?o sobre Mark Mallia. Foto tirada por Etienne Farrell.

Embora frequentemente projetasse um exterior forte, aqueles que realmente o conheciam entendiam que seu cora??o era vasto e generoso. Por um momento, seu sorriso se desvanece. ¡°As pessoas pensavam que ele n?o se importava, mas era totalmente o oposto. Ele apenas levantava essa parede, sabe?¡± Sua voz embarga, e o sorriso retorna. ¡°Mark era muito emp¨¢tico e chorava porque as coisas aconteciam, mesmo com seus amigos. Ele costumava sentir muito.¡± A generosidade de Mark n?o conhecia limites. Ele acolhia pessoas sem-teto em sua casa, oferecendo-lhes comida, roupas, dinheiro e at¨¦ cuidava dos gatos de rua do lado de fora.

A dedica??o de Mark ¨¤ Funda??o SiGMA

As contribui??es de Mark para a Funda??o SiGMA foram mais do que atos de caridade. Eram extens?es de si mesmo. Assim como a arte de Mark enchia as galerias, sua generosidade preenchia cora??es, especialmente atrav¨¦s dos projetos da Funda??o SiGMA. A funda??o, dedicada a apoiar comunidades vulner¨¢veis, canaliza seu legado a cada iniciativa que empreende.

O orgulho de Etienne ¨¦ inconfund¨ªvel enquanto ela fala sobre seu trabalho com a SiGMA, especificamente no leil?o onde ele doou suas pe?as para arrecadar fundos para v¨¢rias causas. ¡°Ele era muito, muito ligado ¨¤ SiGMA,¡± ela diz calorosamente. ¡°Ele sempre falava sobre isso, sempre. A cada poucos meses, ele mencionava o leil?o, o quanto isso significava para ele, o quanto de bem estava fazendo. Ele estava t?o orgulhoso.¡±

¡°S?o Marcos¡± Foto tirada por Etienne Farrell.

Uma de suas lembran?as mais queridas ¨¦ de Mark, totalmente ¨¤ vontade, em um leil?o da Funda??o SiGMA. ¡°Ele estava tipo, ¡®sim, eu vou subir ao palco,¡¯¡± ela recorda com um sorriso, lembrando como ele aproveitava a oportunidade para falar sobre seu trabalho diante da plateia. Ele estava pedindo ¨¤s pessoas que fizessem lances por seu trabalho por uma boa causa.

¡°Mark era essa pessoa. Voc¨º n?o podia ignor¨¢-lo. Assim que ele entrava, voc¨º o notava. E ele era uma pessoa que voc¨º tinha que notar. Voc¨º tinha que ou am¨¢-lo ou odi¨¢-lo. N?o havia meio-termo.¡±

Atrav¨¦s da Funda??o SiGMA, Mark canalizou sua empatia em um impacto tang¨ªvel. Seu objetivo era simples: ajudar as pessoas. Etienne acrescenta: ¡°Se fosse para caridade, ele estava dentro. Era tudo que ele precisava saber.¡±

O esp¨ªrito de Mark ressoava com a miss?o da Funda??o SiGMA de elevar comunidades, n?o apenas por meio de fundos, mas atrav¨¦s da educa??o e empoderamento. Sua arte, leiloada e apreciada por outros, se tornou uma t¨¢bua de salva??o para pessoas que ele nunca conhecera. Para Mark, isso era o que importava.

Um v¨ªnculo al¨¦m das palavras

A conex?o entre Mark e Etienne ia al¨¦m da amizade. Era, em suas palavras, ¡°muito espiritual.¡± Rindo atrav¨¦s das l¨¢grimas, Etienne conta sobre a sincronicidade criativa que tinham. ¡°Ele me diz, ¡®Sim, eu quero fazer um peixe.¡¯ Eu digo, ¡®sim, eu tamb¨¦m quero fazer um peixe,¡¯¡± ela lembra com um sorriso carinhoso. ¡°Discutimos de quem foi a ideia. Costum¨¢vamos nos enviar mensagens como ¡®saia da minha cabe?a.¡¯¡±

O v¨ªnculo deles era uma vis?o compartilhada que se estendia ¨¤ maneira como se apresentavam nas exposi??es. ¡°Costum¨¢vamos criar um mundo inteiro em torno das exposi??es,¡± ela explica. ¡°Nos torn¨¢vamos algo diferente. Por exemplo, ele poderia ser Jesus Cristo, e eu poderia ser a Virgem Maria, ou poder¨ªamos ser aberra??es.¡±

Seus olhos brilham ao se lembrar de uma exposi??o em particular: ¡°Eu o incentivei muito a fazer essa exposi??o solo. Ele me ligou uma vez e disse: ¡®Sabe, eu quero que voc¨º me transforme nessa pessoa. Cabe?as femininas e masculinas.¡¯ Eu disse a ele para deixar isso comigo. Ele estava vestindo um terno preto com maquiagem e esmalte preto nas unhas e uma luva rendada. E uma m¨¢scara e p¨¦rolas, e ¨¦ verdade, todo mundo o adorava, e ele estava como um super deus entrando l¨¢. Havia sua arte, e ele pintava na frente de seus convidados, e estava realmente bom. Eu realmente gostei. Foi muito legal ¨C ele era como ¡®O Chefe!¡¯¡± Ela acrescentou: ¡°Ele ¨¦ meu modelo favorito.¡±

Foto tirada por Etienne Farrell.

Suas colabora??es eram espirituais, de certa forma, e essa mesma energia transbordava no trabalho que ele fazia com a SiGMA. Assim como criavam mundos inteiros atrav¨¦s de sua arte, Mark acreditava em criar oportunidades para outros atrav¨¦s de sua filantropia. A Funda??o SiGMA se tornou outra tela, onde ele pintava com as cores da compaix?o e conex?o.

Onde a criatividade encontra santu¨¢rio

Nossa conversa mudou para a abordagem de Mark em rela??o ¨¤ cria??o de arte ¨C um processo t?o fluido quanto sua imagina??o e t?o variado quanto os materiais que usava. ¡°Para cada ideia, voc¨º precisa tratar cada ideia de acordo com o que a ideia ¨¦,¡± explica Etienne, capturando o esp¨ªrito adapt¨¢vel com o qual Mark abordava seu trabalho. ¡°?s vezes ¨¦ o m¨¦todo; usamos argila, esculpimos, usamos acr¨ªlicos, ¨¤s vezes usamos moldes, ent?o ¨¦ sempre diferente. ?s vezes fazemos fotografia, ¨¤s vezes videografia, ent?o depende da ideia.¡± Cada pe?a assumia sua pr¨®pria vida ¨²nica, moldada pelo meio que melhor se adequava ¨¤ vis?o.

As mem¨®rias de Etienne sobre seus est¨²dios revelam os ambientes que nutriram essa criatividade. O est¨²dio ¡°p¨²blico¡± deles, situado no cora??o de uma vila em frente a uma igreja, era um lugar cheio de vida e energia vibrante. Suas portas estavam abertas para curiosos passantes que frequentemente entravam, atra¨ªdos pela vis?o de algo novo e intrigante. Etienne ri ao recordar de um local que uma vez confundiu suas pequenas esculturas de argila com pastizzi. Nesse espa?o vibrante e imprevis¨ªvel, Mark prosperava com a mistura de intera??es e curiosidade compartilhada.

Foto tirada por Keith Darmanin. Fonte: Etienne Farrell

No entanto, al¨¦m deste ateli¨º agitado, havia outro est¨²dio. Um retiro mais tranquilo e ¨ªntimo que eles chamavam de ¡°lugar seguro.¡± Ao contr¨¢rio do est¨²dio da vila, esse segundo espa?o oferecia isolamento e paz, um santu¨¢rio onde podiam trabalhar com total foco, livres de interrup??es. Foi aqui, dentro dessas paredes, que passavam longas horas juntos, muitas vezes trabalhando lado a lado em um sil¨ºncio confort¨¢vel e significativo.

O espa?o carregava uma esp¨¦cie de energia de cura para ambos. Etienne lembra que, sempre que chegavam l¨¢ com dores de cabe?a, a tens?o se dissipava, dando lugar a uma sensa??o de calma e clareza. ¡°A gente s¨® se sentia melhor aqui,¡± ela reflete. O pr¨®prio Mark dizia: ¡°Eu me sinto t?o seguro aqui.¡±

Foi nesse ambiente de conforto e seguran?a que a conex?o entre eles frequentemente se tornava mais profunda. Ap¨®s sua partida, Etienne manteve o est¨²dio, o lugar seguro deles, como um tributo ¨¤ vis?o compartilhada. ¡°Por enquanto, n?o consigo fazer sem o Mark,¡± ela admite suavemente. ¡°Costumava fazer exposi??es solo, mas ele sempre estava l¨¢, sempre me dava ideias e me apoiava. Pass¨¢vamos horas juntos ¡ª 12 a 15 horas por dia trabalhando. ?s vezes, sem dizer uma palavra sequer.¡±

Nesse espa?o sagrado, o ar ainda parece carregado com as incont¨¢veis horas criativas, com o v¨ªnculo silencioso entre eles pairando como uma presen?a invis¨ªvel. Ali, at¨¦ o sil¨ºncio tinha sua pr¨®pria linguagem. Um lembrete do mundo que constru¨ªram juntos e de uma paz que permanece.

Um tributo a uma boa alma

Quando perguntam como resumiria Mark em uma frase, a voz de Etienne suaviza. ¡°Ele era uma boa alma,¡± diz ela, com o mesmo sorriso agridoce. ¡°Ele n?o ligava para rancores ou coisas materiais. Mark adorava brech¨®s e raramente comprava roupas novas. Se algo custava vinte euros, ele dava trinta. Era apenas quem ele era.¡±

Photo shot by Keith Darmanin. Source: Etienne Farrell

Etienne pausa, pensativa. ¡°Se ele pudesse deixar uma ¨²ltima palavra sobre seu legado, acho que gostaria de ser lembrado como algu¨¦m que doava. Ele doava sua arte. Seu tempo. Seu cora??o.¡± Seus olhos brilham, e ela acrescenta suavemente: ¡°Se eu tivesse que dizer alguma coisa,¡± ela repete, ¡°eu diria que ele ¨¦ uma boa alma.¡±

Conforme a Funda??o SiGMA avan?a, a mem¨®ria de continua a inspirar. Seu legado vai al¨¦m de sua arte exposta nas galerias e persiste nas vidas que influenciou, nas causas que apoiou e na funda??o na qual depositava grande f¨¦. Atrav¨¦s de sua arte e de sua filantropia, seu esp¨ªrito perdura.