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Como falar com a Gen Z e por que isso importa para o iGaming

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

A maioria da Gen Z cresceu deslizando o dedo na tela antes mesmo de aprender a amarrar o cadarço. Ignorar esse público no iGaming é como abrir um cassino gigantesco e esquecer de acender a luz da entrada principal. 

Neste artigo, reunimos dados recentes do mercado de jogos e vamos direto ao ponto: por que a Gen Z (e a turma logo atrás, a Gen Alpha) já move montanhas no ecossistema global de games; como os hábitos móveis, sociais e visuais dessas gerações significam efeito direto sobre aquisição, retenção e fidelização no iGaming; e o que profissionais de marketing, afiliados e operadores podem fazer — em qualquer continente — para não parecerem “tios” tentando usar gírias no TikTok. 

O panorama global de jogos e iGaming 

O mercado global de jogos segue gigantesco e em crescimento. Estimativas publicadas pela Newzoo indicavam que 2024 terminaria perto de US$187,7 bilhões em receitas globais de jogos, com crescimento moderado após anos de oscilações pós‑pandemia. Outras atualizações subsequentes da própria Newzoo apontaram um resultado final em torno de US$182,7 bilhões para 2024 — ainda assim, um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior. A consultoria projeta ultrapassar a casa de US$213 bilhões em 2027 se o ritmo atual se mantiver. 

O mobile continua sendo maioria: a Newzoo estimou participação de 49% da receita global de 2024 (cerca de US$92+ bi). O relatório de estatísticas de mobile gaming da Udonis lembra que a atração do smartphone está na escala: está no bolso de bilhões de pessoas e, portanto, no centro de qualquer conversa sobre aquisição de novos jogadores para jogos e apostas. Sensor Tower reforça: gasto in‑app em mobile games subiu em 2024 mesmo com queda de downloads — sinal de que monetização e live ops contam mais que volume bruto de installs. 

No iGaming, o dinheiro real também escala rápido. A Grand View Research estimou o mercado global de gambling online (cassino, apostas, poker, bingo etc.) em US$78,7 bilhões em 2024 e projeta dobrar para um número acima de US$150 bilhões até 2030, puxado principalmente por apostas esportivas digitais. A H2 Gambling Capital, em estudo feito para a IBIA, calculou o GGR regulado de apostas esportivas (on e offline) em torno de US$94 bilhões em 2024, com 65% já vindo online — e tendência de passar de 70% até 2028. 

Onde está crescendo: giro rápido por continentes 

Ásia‑Pacífico segue se destacando em volume, principalmente por China, Japão, Coreia e mercados do Sudeste Asiático. Mesmo quando o câmbio derruba comparações em dólares, a base de jogadores e o ecossistema de conteúdo continuam ditando as tendências globais. Lá, desktop e mobile convivem com super‑apps, lojas locais e regras regulatórias fortes — tudo que equipes globais precisam entender antes de escalar campanhas. 

A América do Norte é potência em gasto por usuário. A Newzoo estimou um número na casa de US$50 bilhões em receitas de games em 2024, com EUA sozinho respondendo por quase US$47 bilhões. A região é crítica para lançamentos AAA, assinaturas e também para a maturidade de apostas esportivas reguladas estado a estado. 

Europa combina mercados maduros, regras rígidas de publicidade de apostas e alta competição. Operadores online bem‑sucedidos por lá aprenderam a viver com limites de bônus, KYC e exigências de jogo responsável — lições importantes para quem pretende operar em regiões que começam a apertar a regulação. 

A América Latina também não fica muito atrás: as estimativas de mercado regionais colocam o valor total de games acima de US$23 bilhões em 2024, com avanço impulsionado pelos dispositivos móveis, pagamentos facilitados e uma base jovem de jogadores. Mesmo que alguns países ainda enfrentem volatilidade cambial e incertezas regulatórias no iGaming, o apetite do usuário está lá. 

Médio Oriente & Norte da África (MENA) é hoje um dos blocos de crescimento mais rápidos. Os relatórios de mercado indicam uma expansão anual considerável, puxada por investimentos em estúdios, esports e infra de dados. PocketGamer destacou que foi a única região a registrar aumento de downloads de jogos em 2024, ainda que partindo de base menor; estudos de mercado estimam um setor multibilionário com mobile liderando a receita. 

África Subsariana está na fase de aceleração. Um estudo encomendado pela Carry1st mostrou que o mercado africano de games passou de US$1,6 bi em 2023 para perto de US$1,8 bi em 2024, crescimento de dois dígitos — e quase 90% disso vindo de mobile. A população jovem, pagamentos via carteira digital e franquias globais adaptadas ao pré‑pago local explicam o movimento. Até os governos começam a enxergar a indústria como vetor econômico: o Marrocos, por exemplo, lançou iniciativas de hub de desenvolvimento e quer dobrar a receita doméstica de jogos até 2030. 

Quem está jogando: retrato geracional (sim, Gen Z, mas não só) 

Um compilado de dados pela Udonis mostram que o público de mobile games é amplamente distribuído: 25‑34 anos aparece como maior faixa, mas 16‑24 vem logo atrás; depois vêm 35‑44, 45‑54 e 55+. Quando traduzido para gerações, o público é altíssimo em Gen Z (77%) e Millennials (73%), cai em Gen X e despenca só nos Boomers. Em outras palavras: não é só jovem que joga, mas é o jovem que dita formato e ritmo. 

A definição de Gen Z adotada pela McKinsey abrange nascidos entre 1996 e 2010 — os chamados nativos digitais. Diferente dos Millennials, que viram a internet chegar, Gen Z nunca viveu sem conexão. Essa vivência moldou expectativas: velocidade, acesso móvel, conversas em tempo real, e a habilidade de detectar marketing vazio em segundos. 

Consumo de mídia reforça o ponto. A pesquisa Digital Media Trends 2025 da Deloitte mostra que Gen Z passa muito mais tempo em plataformas sociais e conteúdo gerado por usuários (UGC) do que na programação tradicional. Eles também trocam de serviço sem dó: a taxa de churn deles em streaming supera a média geral. Kantar lembra que essa geração quer diálogo, não sermão; sente‑se frequentemente mal‑representada; e valoriza marcas com propósito real, não discurso enlatado. Pesquisas de comportamento de mídia e tecnologia (Pew, CTAM e outras citadas) mostram conectividade quase universal entre adolescentes e jovens adultos, com muitos relatando estar online “quase o tempo todo”. Se você não estiver otimizado para a telinha vertical, você simplesmente não existe para eles. 

O que isso significa para marketing & afiliados de iGaming 

  • Tom de voz: casual, mas não caricato 

Gen Z rejeita formalidade corporativa travada, mas também torce o nariz para marcas que forçam gíria. Fale simples, direto, com humor leve. Um emoji pontual funciona; 30 emojis em sequência vira cringe. Referências culturais precisam ser atualizadas. Kantar e vários estudos de mídia alertam: autenticidade > hype. 

  • Conteúdo em módulos curtos (mente mosaico) 

Feeds curtos dominam. Cortes verticais, quizzes rápidos, polls, challenges, recompensas instantâneas e micro‑lições visuais convertem melhor do que PDFs longos. A Deloitte mostra que conteúdo social é percebido como mais relevante por Gen Z do que TV tradicional; use isso para educar sobre odds, bônus, limites e jogo responsável em formatos snackable. 

  • Mobile primeiro sempre 

Com o celular já dominante globalmente — e crescendo sobretudo em mercados emergentes segundo GSMA, além de estimativas de quase 5 bilhões de usuários de smartphones em 2024 — fluxo de cadastro, KYC, depósito e jogo precisam caber no polegar. Teste telas pequenas, conexões lentas e pagamentos locais. No mobile gaming, monetização cresceu mesmo com menos downloads (Sensor Tower), logo retenção via live ops, eventos sazonais e push segmentado vale ouro. 

  • Gamificação do próprio iGaming 

Os operadores estão discutindo cada vez mais as camadas de metajogo: missões diárias, badges, temporadas, mini‑jogos sociais em torno de apostas. As discussões entre especialistas da indústria mostram que gamificação virou diferencial para retenção frente a ofertas comoditizadas de odds. Use mascotes, personagens ou avatares personalizáveis que progridem conforme o usuário aposta com responsabilidade, aprende ou participa de comunidades. 

  • Personalização relevante (não intrusiva) 

Segmentar por geração é só ponto de partida. Dados comportamentais in‑app, preferências esportivas, limites de gasto auto‑definidos e estilo de jogo devem guiar ofertas. Executivos de marketing de iGaming entrevistados pela SBC destacam que, em 2025, “ser lembrado” exige ligações emocionais: eventos temáticos, recompensas alinhadas a causas sociais e experiências multiplataforma contam mais do que automação fria. 

  • Propósito, confiança e jogo responsável 

Reguladores apertam e Gen Z presta atenção. Transparência de odds, limites flexíveis, ferramentas de pausa e mensagens claras (sem letra miúda) constroem confiança. Estudos globais de mídia (Kantar) mostram que jovens preferem marcas que tomam posição e agem; no setor de apostas, isso pode significar campanhas de jogo mais seguro, apoio a causas locais e relatórios públicos de integridade (a IBIA vem batendo nessa tecla no esporte regulado). 

A conclusão é: leve a sério, mas sem pânico 

Não existe truque universal para “domar” a Gen Z. Existe trabalho: ouvir, testar, ajustar, repetir. Os números mostram que o público jovem já sustenta uma fatia enorme do consumo global de jogos e avança no iGaming conforme a regulação abre espaço. Ao mesmo tempo, pais, tios, avós — todo mundo joga — o que significa que segmentar por atitude e comportamento é tão importante quanto segmentar por idade. 

Seja móvel, seja transparente, fale como gente, entregue valor rápido, faça parte da conversa e alinhe ações a valores reais. Faça isso de forma consistente nos diferentes mercados — de Tóquio a Toronto, de Berlim a Bogotá, de Riad a Rabat, de Lagos a Sydney — e sua marca terá mais do que cliques: terá relevância. 

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