Casas de apostas tomam conta do Brasileirão 2025 e deixam bancos fora do jogo

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

No meio de transmissões esportivas, debates pós-jogo e redes sociais espalhando polêmicas, uma coisa está muito clara no Brasileirão 2025: as casas de apostas tomaram conta do cenário. Basta olhar para os uniformes dos times. Se antes os bancos reinavam absolutos nos patrocínios, agora são as “bets” que estampam suas marcas no peito dos jogadores. E não é por acaso. 

Em uma análise publicada no LinkedIn pelo publicitário André Banchi Alves (), ele mostra como essa mudança de cenário aconteceu de forma rápida e intensa. André foi contratado por uma empresa de apostas para analisar o mercado e o posicionamento das marcas dentro do futebol. Durante esse estudo, ele teve a ideia de montar a tabela do Brasileirão 2025, rodada 11, com as marcas que aparecem na frente das camisas dos clubes. O resultado? Um verdadeiro domínio das casas de apostas. 

O que aconteceu com os bancos? 

Se voltarmos a 2019, vamos lembrar de marcas como BMG, Caixa, Crefisa, Banco Inter e Banrisul. Os bancos dominavam o espaço nobre dos uniformes. Hoje, em 2025, nenhum banco aparece mais. E um dos motivos é bem direto: os contratos ficaram muito caros. A entrada das bets no mercado elevou os valores dos patrocínios e afastou empresas que antes lideravam o setor. 

Segundo levantamento do portal iGaming Brazil, as apostas esportivas devem injetar mais de R$ 1 bilhão em patrocínios no futebol brasileiro só neste ano. Clubes como Flamengo e Corinthians estão entre os maiores beneficiados, com contratos milionários. Só o Flamengo, por exemplo, recebe cerca de R$ 115 milhões de sua patrocinadora principal. 

O que motiva as bets? 

Durante a conversa com um cliente, André ouviu justificativas curiosas sobre a escolha de patrocinar clubes. Uma delas foi: “Se o nosso concorrente está patrocinando um time, nós também temos que patrocinar”. Outra resposta foi: “Gostamos quando há polêmica no jogo do nosso time. Sabemos que a nossa marca vai aparecer nos programas esportivos, até com imagem congelada (risos)”

Ou seja, para muitas dessas empresas, estar na camisa não faz parte de uma estratégia complexa. A ideia é simples: aumentar o alcance da marca, aparecer na TV, nas redes sociais, nos debates esportivos e, principalmente, conquistar o torcedor como cliente. Afinal, na lógica de marketing das apostas, “ajudamos o time dele, então ele aposta com a gente”. 

Um campo lotado de marcas 

Mas não são só as camisas que viraram território das bets. As placas ao redor do campo, os painéis digitais, a tela da TV, o intervalo dos jogos — tudo virou vitrine. Marcas que não conseguiram espaço no uniforme investem em visibilidade lateral. E com isso, o torcedor acaba sendo bombardeado de todos os lados. Basta ligar a TV para ver: do início ao fim do jogo, é aposta para todo lado. 

E a regulamentação? 

Com toda essa movimentação e dinheiro girando, o governo teve que agir. Desde janeiro de 2025, só pode operar no Brasil quem tem autorização da Secretaria de Prêmios e Apostas, ligada ao Ministério da Fazenda. As empresas que quiserem patrocinar clubes, fazer propaganda ou atuar no país precisam se legalizar, pagar impostos e seguir algumas regras. 

Além disso, o Senado abriu a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, que já aprovou um relatório sugerindo mudanças nas leis para evitar escândalos e proteger a integridade do esporte. A proposta inclui projetos de lei e até uma emenda à Constituição. 

E até quando vai durar? 

Essa é a pergunta de um milhão de reais. Ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que, neste momento, o futebol brasileiro está mais dependente do que nunca dos recursos das bets. Os clubes se beneficiam, é verdade. Mas também ficam vulneráveis a mudanças políticas e regulamentares que podem virar o jogo de uma hora pra outra. 

Enquanto isso, seguimos assistindo ao espetáculo — dentro e fora de campo. As apostas fazem parte do jogo, da camisa ao intervalo. E se por um lado elas geram receita, visibilidade e emoção, por outro exigem responsabilidade, regras claras e olhos atentos para o que vem por aí.