Casas de apostas estrangeiras dominam mercado brasileiro

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

Nos últimos anos, o Brasil se tornou um dos mercados mais promissores para o setor de apostas esportivas online. Com uma base de usuários em um crescimento que não tem fim, patrocínios em massa nos principais clubes de futebol e uma cultura esportiva enraizada, o país virou um verdadeiro paraíso para as empresas do setor. No entanto, há um dado que chama atenção: mais de 80% das apostas online feitas no Brasil acontecem em sites estrangeiros, de acordo com estimativas de entidades como o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR). 

Por muito tempo, o Brasil conviveu com um cenário legal ambíguo. A Lei 13.756/2018 autorizou as apostas de quota fixa, mas a regulamentação detalhada da atividade só começou a ser desenhada a partir de 2023, durante o governo Lula. 

Esse vácuo regulatório foi a porta de entrada perfeita para empresas internacionais que já operavam em mercados maduros como Reino Unido, Malta, Gibraltar e Curaçao. Com experiência, tecnologia e capital disponível, elas se alocaram no país de forma indireta, mantendo sede no exterior, mas oferecendo serviços em português, suporte ao cliente local e patrocínios a times e eventos esportivos. 

Exemplos de gigantes estrangeiras que operam no Brasil 

Entre os nomes mais conhecidos do público brasileiro estão: 

  • Bet365 (Reino Unido) – Uma das maiores do mundo, com forte presença em publicidade no Brasil. 
  • Betano (Grécia) – Patrocinadora de clubes como Fluminense e Atlético Mineiro. 
  • Sportingbet (Reino Unido) – Presente há muitos anos no país, com marca consolidada. 
  • Blaze (Curaçao) – Ganhou destaque com influenciadores e transmissões de jogos. 
  • 1xBet (Rússia, mas com licença de Curaçao) – Com forte presença digital e grandes odds. 

Essas empresas, muitas vezes licenciadas em paraísos fiscais com regulação flexível, passaram anos operando livremente no Brasil, sem pagar impostos locais nem obedecer a obrigações como geração de empregos formais, repasse de parte da receita para o esporte ou responsabilidade social. 

Por que as empresas nacionais ainda são minoria? 

A ausência de regras e a forte concorrência internacional desestimulou o surgimento de operadoras brasileiras no setor. Além disso, montar uma casa de apostas envolve muito investimento em tecnologia, segurança, pagamentos e compliance, o que poucas empresas nacionais estavam dispostas ou aptas a enfrentar em um mercado que ainda era considerado uma “zona cinzenta” do ponto de vista legal. 

Mesmo assim, algumas iniciativas começaram a surgir nos últimos anos: 

Pixbet – Considerada a principal casa de apostas com capital brasileiro. Patrocinadora de vários clubes da Série A e B, a empresa se destacou com foco no público popular e integração com o Pix. 

Esportes da Sorte – Outro exemplo de operadora nacional que cresceu apostando em marketing esportivo agressivo. 

Betnacional – Parte da NSX Group, grupo que tem tentado construir um ecossistema nacional para competir com os gigantes internacionais. 

Essas empresas passaram a ganhar espaço, principalmente após o avanço da regulação, e estão entre as que já deram os primeiros passos para se adequar às novas exigências do governo. 

Nova legislação quer virar o jogo 

Com a sanção da Lei nº 14.790/2023 e a edição da Medida Provisória 1.303/2024, o Brasil começa a implementar um modelo mais claro e rígido para o setor. Entre os pontos principais estão: 

  • Obrigatoriedade de ter sede no Brasil para operar legalmente; 
  • Pagamento de 12% de imposto sobre o GGR (Gross Gaming Revenue); 
  • Contribuições sociais e destinação de parte da receita para esporte e segurança pública; 
  • Regras de responsabilidade social e combate à lavagem de dinheiro; 
  • Exigência de licença oficial concedida pelo Ministério da Fazenda, com taxa de outorga de até R$ 30 milhões. 

Essas medidas planejam, entre outros objetivos, nacionalizar parte da arrecadação e reduzir a dependência de plataformas estrangeiras, que hoje faturam muito no Brasil, mas deixam pouco retorno ao país. 

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