Buenos Aires derruba rede de apostas ilegais que atraía menores via WhatsApp

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

Na última semana, uma rede ilegal que convidava adolescentes a apostar pela internet foi derrubada em Buenos Aires. A ação faz parte de uma união entre a Loteria da Cidade (LOTBA), a Fiscalía Especializada em Jogos de Azar (FEJA) e a polícia de Buenos Aires, com foco especial no combate à ludopatia infantil

A operação 

Tudo começou a partir de denúncias de pais, professores e até alunos, apontando que grupos no WhatsApp estavam sendo usados para captar menores e incentivá-los a apostar — inclusive dentro de escolas. A partir desses relatos, a FEJA acionou a División de Investigaciones Tecnológicas da Polícia da Cidade, que identificou diferentes pontos de conexão da rede ilegal. 

Foram cumpridos mandados de busca em diversos bairros: na capital portenha, nas cidades de Vicente López e Chacabuco (na província de Buenos Aires). A e o Ministério Público apreenderam celulares, computadores, documentos e outros materiais digitais que comprovam a existência de apostas clandestinas voltadas a menores de 18 anos. Três pessoas foram indiciadas com base no artigo 301 bis do Código Penal argentino, que pune a exploração de jogos de azar sem autorização oficial. 

Este não é o primeiro caso 

Em 2024, a mesma equipe já havia promovido o “Operativo Juego Limpio”. Foram 30 buscas em casas e escritórios na capital e na província, bloqueio de mais de 3.000 sites e notificação a 15 influenciadores digitais que divulgavam apostas ilegais. Naquela ocasião, foram confiscados milhões de pesos em dinheiro e criptomoedas, além de armas e restrições legais a quatro detidos, com um foragido identificado fora do país. 

Jorge Macri, então prefeito da Cidade, chamou a ludopatia infantil de “uma nova pandemia silenciosa”, reforçando a urgência de enfrentar esse tipo de violência digital contra crianças, segundo o canal oficial de comunicação do governo. 

Desde então, várias ações foram implementadas: 

  • Bloqueios online: já somam mais de 2.390 sites de apostas ilegais e mais de 72 plataformas derrubadas só em 2025. 
  • Redes sociais e influenciadores: foram bloqueados cerca de 2.000 perfis e anúncios; pelo menos 100 influenciadores estão sob investigação, com 24 cartas documento enviadas só em abril. 
  • Ambientes escolares: 1.600 conexões foram bloqueadas na rede BA WiFi, usada em escolas e espaços públicos da capital, impedindo o acesso a sites ilegais. 
  • Ações judiciais e em campo: 75 denúncias foram apresentadas à FEJA; 19 casos envolveram jogos clandestinos presenciais até agora. 

Por que tudo isso importa 

A internet oferece caminhos fáceis para menores entrarem em contato com jogos de azar. O recurso do WhatsApp, canais diretos e ofertas em grupos tornam o alcance dessas estruturas clandestinas oculto, mas eficaz. O risco não está só em apostar, envolve também dependência, impacto no aprendizado, e até consequências financeiras na família. 

Além disso, quando crianças veem influenciadores promovendo apostas como algo normal ou divertido, acaba normalizando o comportamento, o que torna o ciclo ainda mais perigoso. 

Políticas em vigor 

Hoje, apenas sites com domínio “.bet.ar” e regulação pela LOTBA estão autorizados a operar online em Buenos Aires. Estes passam por controles de identidade, verificam que o usuário tem mais de 18 anos e seguem padrões de segurança estabelecidos rigorosamente. 

A cidade impôs limite de 11 operadores licenciados e fechou novas licenças para diminuir o crescimento do setor. 

Além dos bloqueios e restrições, também há investimentos em educação preventiva. Foram realizados 55 workshops em escolas e alcançados mais de 6.000 jovens até agora. 

O que vem pela frente 

As autoridades não planejam desacelerar. Entre os próximos passos: 

  • Mais fiscalização: monitorar domínios e redes sociais para evitar ressurgimento de plataformas ilegais. 
  • Ações nas escolas: intensificar a conscientização entre alunos, professores e famílias sobre os riscos do jogo online. 
  • Campanhas públicas: influenciadores alinhados ao jogo responsável serão convidados a participar de campanhas educativas. 
  • Apoio legislativo: há um projeto em andamento na Legislatura porteña para criar uma lei específica sobre a ludopatia infantil.