Apostas ilegais dominam os EUA e faturam 3 vezes mais que sites regulamentados

Júlia Moura
Escrito por Júlia Moura

Enquanto a legalização das apostas online nos Estados Unidos avança em diversos estados, são os operadores ilegais que continuam dominando a maior parte do campo. Um novo relatório da empresa Yield Sec, solicitado pela campanha “Coalition for a Fair Game” (CFG), revelou números preocupantes que escancaram o tamanho do problema. 

De acordo com o estudo, os sites de apostas sem licença responderam por 74% de toda a receita bruta de jogos de azar online (Gross Gaming Revenue – GGR) nos EUA em 2024. Isso representa cerca de US$ 67,1 bilhões, de um total de US$ 90,1 bilhões movimentados no ano. Em contrapartida, as plataformas regulamentadas ficaram com apenas 26% do mercado, gerando cerca de US$ 23 bilhões. 

Apesar de um crescimento de 26% no faturamento dos operadores legais em relação ao ano anterior, o mercado clandestino cresceu ainda mais: 64%. O avanço dos sites não licenciados se dá, em grande parte, pela sua capacidade de burlar as exigências regulatórias, como impostos e limites de responsabilidade, oferecendo bônus maiores, menos restrições e uma experiência de usuário aparentemente mais vantajosa. 

O tamanho da concorrência ilegal 

O relatório da Yield Sec identificou 917 plataformas ilegais operando ativamente nos EUA, em comparação com apenas 95 legalizadas. Além disso, são 668 afiliados promovendo cassinos e casas de apostas clandestinas, número que supera em seis vezes os afiliados que trabalham com marcas regulamentadas. 

Segundo o CEO da Yield Sec, Ismail Vali, o problema vai além dos números. Para ele, o consumidor médio não consegue identificar claramente o que é legal e o que não é. “As plataformas ilegais oferecem todos os produtos em um só lugar, com promoções melhores, sem os limites impostos por leis estaduais. Isso atrai quem busca conveniência e bons retornos”, afirmou. 

Ainda de acordo com o relatório, apenas 12% da exposição de marca (anúncios, conteúdo patrocinado, presença em mídia) em 2024 foi de plataformas legais. Ou seja, 88% do que o público viu ou acessou estava relacionado a operadores não licenciados — muitos dos quais se aproveitam de grandes eventos esportivos, como o Super Bowl ou as finais da NBA, para atrair apostadores. 

Variações regionais e desafios locais 

Nos estados onde o jogo online é regulamentado, como Nova Jersey, Pensilvânia e Michigan, o cenário é menos preocupante. Nessas regiões, as plataformas legais conseguiram capturar entre 57% e 58% do mercado, segundo o relatório. Ainda assim, isso deixa quase metade da receita nas mãos de operadores ilegais. 

Já em estados onde a regulamentação é inexistente ou limitada, como Califórnia, Texas e Ohio, o domínio dos sites ilegais é quase total. O caso de Ohio chama a atenção: o mercado ilegal movimentou US$ 5,26 bilhões, o que representa 85% de participação. 

Outro desafio para as plataformas regulamentadas são os chamados “sweepstakes 바카라s”, ou cassinos de sorteios, que funcionam em um limbo jurídico em alguns estados. Embora não operem exatamente da mesma forma que os cassinos online tradicionais, esses sites oferecem jogos de azar com a promessa de prêmios em dinheiro — e, por não exigirem apostas diretas em dinheiro real, escapam de muitas regras de fiscalização. 

Fiscalização e futuro do setor 

O relatório da CFG termina com um alerta: sem fiscalização eficaz, o mercado legal está ameaçado. “As plataformas ilegais estão drenando usuários e, com isso, a arrecadação tributária que poderia ser investida em saúde, educação ou combate ao próprio vício em jogos”, afirma Derek Webb, fundador da campanha. 

Ismail Vali reforça que o crescimento da ilegalidade pode sufocar as plataformas sérias, que seguem regras e pagam impostos. “É como colocar um atleta honesto para competir com alguém dopado. A desigualdade de condições é gritante”, disse em entrevista ao portal Gambling Insider. 

Esse cenário não é exclusividade dos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, a estimativa é que boa parte das apostas esportivas ainda ocorre em plataformas sem licença, mesmo após o avanço do marco regulatório aprovado em 2023. A Anatel e o Ministério da Fazenda têm intensificado a fiscalização, com bloqueios de sites e suspensão de métodos de pagamento. 

Caminhos possíveis 

Entre as soluções apontadas por especialistas estão o reforço nas campanhas de conscientização, mais transparência para o consumidor identificar os sites legais, ações conjuntas com plataformas de mídia (como Google e redes sociais), e acordos interestaduais que padronizem a regulação nos EUA. 

Outro ponto importante seria tornar o processo de licenciamento mais ágil e acessível para que mais operadores entrem na legalidade. Isso permitiria uma competição mais justa e uma experiência segura para o consumidor. 

Enquanto isso, a tendência é de que os operadores ilegais continuem crescendo onde houver brechas — seja por falta de legislação, fiscalização fraca ou simplesmente por serem mais “atraentes” aos olhos do apostador.